O indivíduo é representado na modernidade como um ser dotado de liberdade e passa a ser valorizado como ser humano terreno, livre, racional, dinâmico, muda sua forma de ver e de pensar o mundo, que passa a ser compreendido através da importância do ser humano. A Razão pretende universalizar as identidades, elas acabam assumindo papel conflitante ao trocar o apoio religioso pelos ideais modernos pois o homem perde a segurança proporcionada pela religião e sente-se desprotegido em meio ao caos do período moderno, entregue ao acaso das incertezas. Ele percebe que sozinho pode articular sua própria vida usando seu intelecto, sem a intervenção de Deus. Trata-se de uma descoberta de si que permite a percepção de novas possibilidades de realizações; o homem é posto como construtor de sua própria realidade, dominador do mundo, capaz de explicar as novas transformações ocorrentes. Mas a ascensão da pessoa enquanto individuo se deu de forma dolorosa, a separação do individuo com as tradições lhe causou grande melancolia, ele percebe que a liberdade de escolhas com mais opções de vida não é tão simples como parece, ele começa a tomar consciência do peso de se sentir só, desprotegido e passa a refletir sobre o sentido da vida. Essa melancolia desperta o desejo pela morte, ele lamenta existir e por esta razão alguns recorrem ao suicido como forma de se libertar da triste agonia que é viver. Alguns pensadores religiosos atribuem a epidemia de suicídios ao diabo, visto que a Igreja condena essa prática por considerar a vida como uma dádiva de Deus. Mas ao mesmo tempo em que ele sente esse desejo pela morte ele sente o medo, medo de perder sua alma (salvação) em virtude do pecado. “O Renascimento conheceu, pois, tanto o medo da morte como o desejo da morte.” (Delumeau, 1984, p.48). Ele sente-se mais próximo do pecado, frágil à tentação do diabo e teme o juízo final, entra em contradição consigo mesmo: quer desfrutar das mudanças deste novo período de prazeres humanos, até então proibidos, mas ao mesmo tempo teme o castigo de Deus, quer colaborar com o plano divino e garantir sua salvação. Por ai percebe-se a confusão de sentimentos contraditórios presentes no individuo moderno, ele queria encontrar uma verdade que desse sentido a sua existência. Ele sai da tutela da Igreja e passa a ser controlado pelo Estado, sua liberdade de consciência é suprimida pelos interesses da razão do mesmo. Os artistas modernos expressam o sofrimento acompanhado do sentimento de incapacidade de realizar boas ações.“Muitos artistas e literatos do século XVI sentiram, assim, um sentimento de solidão e se inclinaram para a tristeza.” (Delumeau, 1984, p. 46).
O individualismo acentua a idéia de que cada um é responsável pela condução de sua vida com liberdade para tomar decisões próprias. O individuo moderno busca singularidade, liberdade, auto-resposabilidade; ele quer promover sua diferenciação em relação aos demais indivíduos através da comparação.
Com a afirmação do individualismo surge a descoberta da criança, na sociedade medieval ela era considerada um adulto pequeno, não era tratada de forma diferenciada e ainda muito pequena tinha que arcar com responsabilidades, era executando as mesmas atividades dos mais velhos que era considerada individuo. Não se dava importância à sua existência e nem tampouco à sua morte. A partir do séc. XV aparece uma nova sensibilidade, começa-se a ter cuidado e afetividade com a criança. “... os quadros de família da época de Luís XIV tendiam a organizar-se em volta da criança, e esta passou a ser o centro da composição pictórica.” (Delumeau, 1984, p. 66). Os artistas passam a representá-la como anjos, depois a associa ao menino Jesus e confere à mesma pureza, inocência, fraqueza; seria necessário preserva-las. São feitas pinturas de crianças nuas, carnudas, sorridentes, com bochechas rosadas, brincando. É uma nudez voltada ao inocente onde a criança aparece sem sexo, despreocupada, feliz, é como uma renovação de esperanças num mundo com tantos perigos vigentes, por isso a necessidade de protegê-las. Percebeu-se então a necessidade de se investir em escolas para formar homens cristãos. A educação deveria libertar os indivíduos da irracionalidade e torná-los homens com princípios morais racionais, cidadãos com identidades fixas (para dar sentido ao mundo) e pertencentes ao Estado.