quarta-feira, 28 de abril de 2010

Entre a liberdade e a angústia; um caos de sentimentos na resignificação dos valores individuais na modernidade.



O indivíduo é representado na modernidade como um ser dotado de liberdade e passa a ser valorizado como ser humano terreno, livre, racional, dinâmico, muda sua forma de ver e de pensar o mundo, que passa a ser compreendido através da importância do ser humano. A Razão pretende universalizar as identidades, elas acabam assumindo papel conflitante ao trocar o apoio religioso pelos ideais modernos pois o homem perde a segurança proporcionada pela religião e sente-se desprotegido em meio ao caos do período moderno, entregue ao acaso das incertezas. Ele percebe que sozinho pode articular sua própria vida usando seu intelecto, sem a intervenção de Deus. Trata-se de uma descoberta de si que permite a percepção de novas possibilidades de realizações; o homem é posto como construtor de sua própria realidade, dominador do mundo, capaz de explicar as novas transformações ocorrentes. Mas a ascensão da pessoa enquanto individuo se deu de forma dolorosa, a separação do individuo com as tradições lhe causou grande melancolia, ele percebe que a liberdade de escolhas com mais opções de vida não é tão simples como parece, ele começa a tomar consciência do peso de se sentir só, desprotegido e passa a refletir sobre o sentido da vida. Essa melancolia desperta o desejo pela morte, ele lamenta existir e por esta razão alguns recorrem ao suicido como forma de se libertar da triste agonia que é viver. Alguns pensadores religiosos atribuem a epidemia de suicídios ao diabo, visto que a Igreja condena essa prática por considerar a vida como uma dádiva de Deus. Mas ao mesmo tempo em que ele sente esse desejo pela morte ele sente o medo, medo de perder sua alma (salvação) em virtude do pecado. “O Renascimento conheceu, pois, tanto o medo da morte como o desejo da morte.” (Delumeau, 1984, p.48).  Ele sente-se mais próximo do pecado, frágil à tentação do diabo e teme o juízo final, entra em contradição consigo mesmo: quer desfrutar das mudanças deste novo período de prazeres humanos, até então proibidos, mas ao mesmo tempo teme o castigo de Deus, quer colaborar com o plano divino e garantir sua salvação. Por ai percebe-se a confusão de sentimentos contraditórios presentes no individuo moderno, ele queria encontrar uma verdade que desse sentido a sua existência.  Ele sai da tutela da Igreja e passa a ser controlado pelo Estado, sua liberdade de consciência é suprimida pelos interesses da razão do mesmo. Os artistas modernos expressam o sofrimento acompanhado do sentimento de incapacidade de realizar boas ações.“Muitos artistas e literatos do século XVI sentiram, assim, um sentimento de solidão e se inclinaram para a tristeza.” (Delumeau, 1984, p. 46).
   O individualismo acentua a idéia de que cada um é responsável pela condução de sua vida com liberdade para tomar decisões próprias. O individuo moderno busca singularidade, liberdade, auto-resposabilidade; ele quer promover sua diferenciação em relação aos demais indivíduos através da comparação.
   Com a afirmação do individualismo surge a descoberta da criança, na sociedade medieval ela era considerada um adulto pequeno, não era tratada de forma diferenciada e ainda muito pequena tinha que arcar com responsabilidades, era executando as mesmas atividades dos mais velhos que era considerada individuo. Não se dava importância à sua existência e nem tampouco à sua morte. A partir do séc. XV aparece uma nova sensibilidade, começa-se a ter cuidado e afetividade com a criança. “... os quadros de família da época de Luís XIV tendiam a organizar-se em volta da criança, e esta passou a ser o centro da composição pictórica.” (Delumeau, 1984, p. 66). Os artistas passam a representá-la como anjos, depois a associa ao menino Jesus e confere à mesma pureza, inocência, fraqueza; seria necessário preserva-las. São feitas pinturas de crianças nuas, carnudas, sorridentes, com bochechas rosadas, brincando. É uma nudez voltada ao inocente onde a criança aparece sem sexo, despreocupada, feliz, é como uma renovação de esperanças num mundo com tantos perigos vigentes, por isso a necessidade de protegê-las. Percebeu-se então a necessidade de se investir em escolas para formar homens cristãos. A educação deveria libertar os indivíduos da irracionalidade e torná-los homens com princípios morais racionais, cidadãos com identidades fixas (para dar sentido ao mundo) e pertencentes ao Estado.  

terça-feira, 27 de abril de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
 Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
 
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
(Osvaldo Montenegro)

Afinal, quem é o ignorante aqui?


Tudo bem que na hora do branco, ou em caso de ser pego de surpresa a solução é enrrolar, mas peraí né, essa foi foda, afinal ignorância tem limites. Essa resposta foi retirada do vestibular de uma Universidade do RJ.
Isso demonstra que, a situação de discriminação de determinados segmentos em nossa sociedade ainda é vigente. Somos produto de uma política de exclusão que desfavorece uns em detrimento da supervalorização de outros. Dessa forma pelo fato de sermos "paraibas" somos consequentemente inferiores e é importante que tenhamos direito a um vale como benefício para os "coitados paraibanos".
Essa pessoa é tão desinformada que não sabe que o Vale do Paraiba não se localiza na Pb, mas trata-se se uma região no leste de São Paulo e também no Rio de Janeiro que concentra grande parte do PIB brasileiro (e não aprendi isso na faculdade e sim no ensino médio).
Por ai percebemos como a Paraiba é esteriotipada no sudeste e sul brasileiro, é como se fossemos a parcela populacional onde o desenvolvimento não alcança.
Acompanhei uma discussão em um blog onde falavam sobre esse texto e a maioria das pessoas colocavam a Paraíba de forma extremamente preconceituosa, dizendo que "não sabemos ler e escrever", "não temos capacidade para entrar na faculdade" e outros comentários ridículos desse tipo. Sujeitos historicamente marginalizados em pleno século XXI, afinal, que Brasil temos e que Brasil queremos?

O fato é que muitas pessoas precisam rever seus conceitos e perceber que a sociedade atual é resultado de uma construção histórica e que não há necessidade de nenhuma cultura se colocar como superior, afinal todos temos nossas particularidades, somos diversos e temos que respeitar a alteridade, conhecer o outro para compreendê-lo...