quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Expressões da Cultura afrobrasileira em sala de aula


       A arte africana é efeito das manifestações de seu povo que representa suas histórias, mitos, crenças e filosofia, transformando os elementos de sua cultura em inspiração para vários movimentos artísticos. Os nativos africanos que vieram para o Brasil na condição de escravos trouxeram consigo sua tradição cultural que aqui se fundiu com elementos das culturas indígena e portuguesa para formarem a nossa cultura afro brasileira. O Brasil por estar centrado nos valores eurocêntricos passou muito tempo para reconhecer a importância/contribuição da cultura afro, no entanto nas ultimas décadas temos um considerável aumento referente a tais manifestações e isso é importantíssimo pois a valorização da cultura afro desconstrói estereótipos enraizados no interior de nossa sociedade, sobretudo trata-se da construção da identidade do negro e da memória de seus artistas, é um resgate de sua auto estima na medida em que reconhece seu devido valor.
     Desde a época colonial a cultura afro nunca encontrou liberdade para se expressar, havia uma negação do “ser negro” que silenciava, reprimia quaisquer tipo de demonstração. Aqui negros/as viviam em condições sub humanas sem terem sequer o direito de matar a saudade de sua terra através de seus rituais cotidianos nos quais eles preservavam seus valores e tradições. Era o que lhes havia restado da África e agora lhes era tirado de forma rude. Assim, manifestações como as religiões afro-brasileiras e a capoeira eram severamente perseguidas pelas autoridades. Apenas na metade do século XX as expressões culturais afro-brasileiras, como o samba, começaram a ser um pouco mais aceitas pelas elites brasileiras, ganhando destaque na música popular e se configurando como expressões artísticas nacionais. Também a capoeira que era mal quista foi denominada no governo do então presidente Getúlio Vargas como "único esporte verdadeiramente nacional"[1].
     Somente a partir dos anos 50 tornam-se menores as perseguições às religiões afro brasileiras ocorrendo também um dinamismo nos rituais visto que os terreiros passam a ser freqüentados por brancos e também pela elite. Gradativamente foram implantadas mudanças na estrutura social brasileira, no entanto a intolerância/preconceito ainda é latente no nosso meio e, pior ainda, na sala de aula. Neste ambiente de construção de sujeitos, de formação de cidadãos muitas vezes são presenciadas formas inaceitáveis de intolerância étnica. O problema estaria na criação dada pelos pais? Na formação do/a professor/a que não está apto à formação conscientização dos/as alunos/as? No Estado que não promove políticas voltadas para a educação étnica? Na realidade é um problema sério e que deve ser analisado e solucionado. Não podemos fechar os olhos diante de algo tão importante. Há muito temos discussões e até produções sobre o respeito à diversidade étnica, entretanto a realidade é impactante. Evoluímos tecnologicamente, mas regredimos em valores e práticas. Somos oriundos da miscigenação, supervalorizamos um discurso que despreza parte do que somos.
     É preciso construir uma relação dos diversos grupos sociais enfatizando o respeito à diversidade étnica no Brasil, desconstruindo paradigmas preconceituosos e racistas e afirmando nossa identidade plural. No tocante às expressões afro brasileiras é possível aproximar os alunos de forma prática pois as mesmas são bastante acessíveis. A partir da musica e da dança, por exemplo o/a professor/a pode tornar a aula atraente, interessante e participativa. Ao ministrar o conteúdo a partir do axé, hip hop, coco de roda, ciranda, samba, grafite o/a professor/a estará fazendo com que o/a aluno/a assimile melhor os assuntos e consequentemente compreenda melhor a influencia de tais expressões na cultura brasileira.
    Nos questionários aplicados aos alunos pedimos para que os alunos especificassem quais as expressões da cultura afro brasileira eles conheciam: Capoeira, Rap, Ciranda, Grafite, Coco de Roda, Samba ou Nenhuma das opções. A maioria dos alunos conhece uma ou mais expressões, entretanto desconhecem que as mesmas sejam afro brasileiras. Tal resultado nos leva a pensar na construção histórica dos lugares ocupados por negros/as no Brasil e mais especificamente sobre a educação no Brasil.
     Os currículos de História no Brasil sempre foram organizados de acordo com o ordenamento linear cronológico e a consagração de determinadas personagens consideradas “sujeitos da história”. Essa organização voltada para “as grandes personagens” da história dá a entender que existem os “sujeitos históricos” e “outros sujeitos” que não exerceram participação efetiva na história. Sendo assim, os cidadãos anônimos, as pessoas comuns não são consideradas construtoras da história, estando excluídas do processo histórico e isso, segundo os autores, causa um desinteresse em alguns estudantes, exatamente por não se sentirem incluídos na história e passam a ignorar o estudo dessa disciplina escolar tão importante. A organização pautada na linearidade visa a permanência da tradição, sendo mal quista pelos autores porque não permite que os estudantes percebam as continuidades e descontinuidades presentes nos processos históricos, fazendo com que eles percam a sequência dos acontecimentos. A partir dos anos 70, com o processo de redemocratização, ocorrem intensas transformações no sistema escolar e ocorre uma organização diferenciada do currículo escolar, na tentativa de distanciá-lo da tendência tecnicista e aproximá-lo de uma tendência de mudança da realidade.

                                                         “Os debates apontavam que, além de “formar o cidadão crítico e consciente”, o ensino de História deveria eliminar o ideário nacionalista do regime militar e abordar questões ligadas à identidade social”. (ROCHA, 2008, p.77)

     Portanto deveria ser feita uma nova abordagem histórica que formasse um aluno livre, consciente, responsável, que fosse capaz de interferir na sociedade, como um sujeito histórico. Dessa forma não basta meramente reconhecer nossa diversidade étnica, temos que incitar estudos sobre a história do/a negro/a. É nosso dever, enquanto professores/as, desconstruirmos este universo racista/preconceituoso no ambiente escolar e incentivarmos uma cultura voltada para o respeito à diversidade, valorizando a pluralidade cultural.
     Temos que conscientizar nossas crianças e jovens para a valorização de nossa cultura, de que nossa identidade resulta da miscigenação de etnias. Já não é admissível sermos coniventes com o modelo europeu excludente que instituiu a África como um continente desprovido de história pois não é coerente silenciarmos a narrativa de um continente tão imenso e com tamanha beleza. A áfrica é parte fundamental de nossa identidade e deve ser valorizada e legitimada como tal. Alguns eventos como a ascensão de negros/as como personalidades mundiais tem contribuído positivamente para a diminuição do preconceito. Também as discussões acadêmicas e de movimentos ligados ao Movimento Negro vem quebrando os paradigmas eurocêntricos. Em 2006 foi criado o Prêmio Nacional de Expressões Culturais Afro-brasileiras[2]  tem por objetivo o desenvolvimento de artistas, grupos e companhias que trabalhem com a produção artística de estética negra, a fim de valorizar a cultura afro descendente e suas manifestações contemporâneas. Muito já foi feito, no entanto apenas começamos e para obtermos êxitos ainda há muito por fazer.

[1] Informação retirada do site http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_afro-brasileira.
[2] Dado retirado do site do Ministério da Cultura: http://www.cultura.gov.br/site/2010/01/12/i-premio-nacional-de-expressoes-culturais-afro-brasileiras/

Bibliografia

ALBUQUERQUE, Wlamyra R. de; FILHO, Walter Fraga. Uma história do negro no Brasil. Salvador: Centro de Estudos Afro-Orientais; Brasília: Fundação Palmares, 2006, p. 13-35.

CLARETO, Sônia Maria; SÁ, Érica Aparecida de. Formação de professores no mundo contemporâneo: desafios, experiências e perspectivas. In.: LOPES, Paulo R. Curvelo; CALDERANO, Maria da Assunção (org.). Juiz de Fora: ADUFJF, 2006, p. 19-37.

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais / Tradução de Viviane Ribeiro. 2 ed. Bauru: EDUSC, 2002, p. 143-202.

ROCHA, Aristeu Castilhos da. O regime militar no livro didático de historiado ensino médio: a construção de uma memória. Tese de doutorado (PUC – SP), 2008, p. 58-79


sexta-feira, 23 de julho de 2010

SIGNIFICAÇÕES DA PROFISSÃO DOCENTE

       A ação do "fazer-se professor" implica numa ruptura com o que vem sendo praticado, temos que agir com autonomia para mudarmos a realidade à nossa volta. Temos que sair da Academia no intuito de colocar nossa teoria em ação, dissolvendo a dissociação entre teoria e prática pois não se tem como transformar a realidade produzindo saber cientifico.
        É essencial que se reflitamos sobre a incompletude do ser humano, sobre a importância do outro para a nossa formação. É a partir das relações  que construímos novos conhecimentos, construímos nossa forma de vida, fazemos história. É refletindo sobre o significado do respeito às diferenças que percebemos a importância do professor enquanto educador, formador de opiniões. Podemos fazer sentido, dar significação à nossa realidade, transformar vidas e efetivar uma educação emancipadora se incentivarmos nossos alunos a assumirem posições reflexivas/críticas diante dos fatos. Uma escola de qualidade depende de todos e o professor é parte fundamental para que possamos transformar o cotidiano das escolas. Porém é imprescindível que se criem condições favoráveis à ação escolar. Como educar se não nos são oferecidos meios viáveis para tal? Qualquer pessoa que visite as escolas paraibanas certamente encher-se-á de espanto ao perceber que em muitas delas não há carteiras, merenda, material escolar, professores e profissionais em geral, estrutura física adequada.
      Tal situação se agrava se adentrarmos o interior onde as crianças não dispõem sequer de transporte para se deslocarem até a escola. Essa é uma triste realidade do Brasil, não há investimento suficiente na educação. A falta de motivação que demonstro em trechos da minha escrita está relacionada principalmente a tais fatores. No meu ver os fundamentais investimentos por partes de nossos governantes devem ser saúde, educação e emprego. Essas palavras só são pronunciadas e prometidas em época de eleição. A situação de nossas escolas e o descaso para com os professores, e com os demais profissionais desta área, é algo revoltante e que precisa mudar e eu acho que a ação do professor é determinante para mudar este quadro.
     Os alunos nunca se dão conta do que está por trás das “cortinas de fumaça” e isso tem a ver com a formação que lhes é dada. É rara a presença de pais nas escolas, estes geralmente comparecem no final do ano para reclamar em caso de repetência dos filhos e dirigir insultos aos professores. Lembro de quando eu estudava. Nós nunca sabíamos dos problemas enfrentados pela escola e era comum os alunos falarem que os professores reclamavam sem motivos. Hoje ao observar o outro lado da coisa percebo o quanto nossas escolas encontram-se desestruturadas e não há como culpar um segmento individual, a responsabilidade está dispersa e todos somos culpados.

Desejos

A tarde caída é a noite ao nascer

"Teu rosto rosado são os olhos meus,
tua boca salivante veste meu desejo
E o teu perfume, ah o teu perfume...
É o sopro que os deuses invocam sobre
o nosso tempo
O frio o passar distante
Ao esquentar de nossos corpos
Que nascem sobre encontrar do cheiro suado,
e desfalece no sono profundo".

(Shirlena Ferreira)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Entre a liberdade e a angústia; um caos de sentimentos na resignificação dos valores individuais na modernidade.



O indivíduo é representado na modernidade como um ser dotado de liberdade e passa a ser valorizado como ser humano terreno, livre, racional, dinâmico, muda sua forma de ver e de pensar o mundo, que passa a ser compreendido através da importância do ser humano. A Razão pretende universalizar as identidades, elas acabam assumindo papel conflitante ao trocar o apoio religioso pelos ideais modernos pois o homem perde a segurança proporcionada pela religião e sente-se desprotegido em meio ao caos do período moderno, entregue ao acaso das incertezas. Ele percebe que sozinho pode articular sua própria vida usando seu intelecto, sem a intervenção de Deus. Trata-se de uma descoberta de si que permite a percepção de novas possibilidades de realizações; o homem é posto como construtor de sua própria realidade, dominador do mundo, capaz de explicar as novas transformações ocorrentes. Mas a ascensão da pessoa enquanto individuo se deu de forma dolorosa, a separação do individuo com as tradições lhe causou grande melancolia, ele percebe que a liberdade de escolhas com mais opções de vida não é tão simples como parece, ele começa a tomar consciência do peso de se sentir só, desprotegido e passa a refletir sobre o sentido da vida. Essa melancolia desperta o desejo pela morte, ele lamenta existir e por esta razão alguns recorrem ao suicido como forma de se libertar da triste agonia que é viver. Alguns pensadores religiosos atribuem a epidemia de suicídios ao diabo, visto que a Igreja condena essa prática por considerar a vida como uma dádiva de Deus. Mas ao mesmo tempo em que ele sente esse desejo pela morte ele sente o medo, medo de perder sua alma (salvação) em virtude do pecado. “O Renascimento conheceu, pois, tanto o medo da morte como o desejo da morte.” (Delumeau, 1984, p.48).  Ele sente-se mais próximo do pecado, frágil à tentação do diabo e teme o juízo final, entra em contradição consigo mesmo: quer desfrutar das mudanças deste novo período de prazeres humanos, até então proibidos, mas ao mesmo tempo teme o castigo de Deus, quer colaborar com o plano divino e garantir sua salvação. Por ai percebe-se a confusão de sentimentos contraditórios presentes no individuo moderno, ele queria encontrar uma verdade que desse sentido a sua existência.  Ele sai da tutela da Igreja e passa a ser controlado pelo Estado, sua liberdade de consciência é suprimida pelos interesses da razão do mesmo. Os artistas modernos expressam o sofrimento acompanhado do sentimento de incapacidade de realizar boas ações.“Muitos artistas e literatos do século XVI sentiram, assim, um sentimento de solidão e se inclinaram para a tristeza.” (Delumeau, 1984, p. 46).
   O individualismo acentua a idéia de que cada um é responsável pela condução de sua vida com liberdade para tomar decisões próprias. O individuo moderno busca singularidade, liberdade, auto-resposabilidade; ele quer promover sua diferenciação em relação aos demais indivíduos através da comparação.
   Com a afirmação do individualismo surge a descoberta da criança, na sociedade medieval ela era considerada um adulto pequeno, não era tratada de forma diferenciada e ainda muito pequena tinha que arcar com responsabilidades, era executando as mesmas atividades dos mais velhos que era considerada individuo. Não se dava importância à sua existência e nem tampouco à sua morte. A partir do séc. XV aparece uma nova sensibilidade, começa-se a ter cuidado e afetividade com a criança. “... os quadros de família da época de Luís XIV tendiam a organizar-se em volta da criança, e esta passou a ser o centro da composição pictórica.” (Delumeau, 1984, p. 66). Os artistas passam a representá-la como anjos, depois a associa ao menino Jesus e confere à mesma pureza, inocência, fraqueza; seria necessário preserva-las. São feitas pinturas de crianças nuas, carnudas, sorridentes, com bochechas rosadas, brincando. É uma nudez voltada ao inocente onde a criança aparece sem sexo, despreocupada, feliz, é como uma renovação de esperanças num mundo com tantos perigos vigentes, por isso a necessidade de protegê-las. Percebeu-se então a necessidade de se investir em escolas para formar homens cristãos. A educação deveria libertar os indivíduos da irracionalidade e torná-los homens com princípios morais racionais, cidadãos com identidades fixas (para dar sentido ao mundo) e pertencentes ao Estado.  

terça-feira, 27 de abril de 2010

Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
 Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
 
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
(Osvaldo Montenegro)

Afinal, quem é o ignorante aqui?


Tudo bem que na hora do branco, ou em caso de ser pego de surpresa a solução é enrrolar, mas peraí né, essa foi foda, afinal ignorância tem limites. Essa resposta foi retirada do vestibular de uma Universidade do RJ.
Isso demonstra que, a situação de discriminação de determinados segmentos em nossa sociedade ainda é vigente. Somos produto de uma política de exclusão que desfavorece uns em detrimento da supervalorização de outros. Dessa forma pelo fato de sermos "paraibas" somos consequentemente inferiores e é importante que tenhamos direito a um vale como benefício para os "coitados paraibanos".
Essa pessoa é tão desinformada que não sabe que o Vale do Paraiba não se localiza na Pb, mas trata-se se uma região no leste de São Paulo e também no Rio de Janeiro que concentra grande parte do PIB brasileiro (e não aprendi isso na faculdade e sim no ensino médio).
Por ai percebemos como a Paraiba é esteriotipada no sudeste e sul brasileiro, é como se fossemos a parcela populacional onde o desenvolvimento não alcança.
Acompanhei uma discussão em um blog onde falavam sobre esse texto e a maioria das pessoas colocavam a Paraíba de forma extremamente preconceituosa, dizendo que "não sabemos ler e escrever", "não temos capacidade para entrar na faculdade" e outros comentários ridículos desse tipo. Sujeitos historicamente marginalizados em pleno século XXI, afinal, que Brasil temos e que Brasil queremos?

O fato é que muitas pessoas precisam rever seus conceitos e perceber que a sociedade atual é resultado de uma construção histórica e que não há necessidade de nenhuma cultura se colocar como superior, afinal todos temos nossas particularidades, somos diversos e temos que respeitar a alteridade, conhecer o outro para compreendê-lo...

quinta-feira, 11 de março de 2010

Analisando o universo religioso contemporâneo

A religião é uma das atividades mais universais conhecidas pela humanidade, sendo praticada por todas as culturas desde longa data. Mas não há uma definição de religião universalmente aceita. Deve existir uma liberdade de religião, respeito pela diferença/opção do outro. A religião surge como desejo de encontrar um sentido, um propósito categórico para a vida, geralmente relacionado a um ou a vários seres superiores/sobrenaturais. E, de acordo com Junito de Souza Brandão, as pessoas sentem-se movidas por ideais religiosos, tornando-se dependentes dos mesmos na busca de significados válidos para suas vidas.
"Religião pode ser definida como o conjunto de atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis tidos como sobrenaturais". (BRANDÂO, 1991, p.39)
Também existe a questão da exploração comercial onde manipulam pessoas através religião (buscam uma forma de prosperar se utilizando da ingenuidade de pessoas).
Ultimamente é crescente a quantidade de indivíduos que buscam a religião como uma espécie de fuga da realidade. Eles se refugiam na esperança de que existe algo para além desse universo material, como uma forma de preencher o vazio causado pelo individualismo.
Algumas denominações religiosas passaram a modernizar rituais como estratégia para alcançar seus fiéis, como é o caso do neopentecostalismo. Este baseia suas doutrinas e práticas na Bíblia, em experiências, visões, sonhos e revelações. O neopentecostalismo tem sua origem no pentecostalismo clássico (surgido nos EUA na década de 60 e trazido para o Brasil nos anos 70) que trouxe inovações como o uso da mídia eletrônica (televangelismo) e administração empresarial nas igrejas.

Analisando o universo religioso contemporâneo, percebo que há grandes transformações; existe uma tendência de diminuição de fiéis das religiões tradicionais como a católica e a protestante tradicional e a ascensão das igrejas mais “liberais”, particularmente as neopentecostais (igrejas neopentecostais como a Universal do Reino de Deus, por exemplo, adotaram a Teologia da Prosperidade, segundo a qual Deus nos dá meios para que possamos ascender financeiramente, ou seja, é viável a relação entre o espiritual e o material).
É crescente também a quantidade de pessoas que optam por um estilo de vida mais alternativo cuja religião torna-se a própria consciência.
É imprescindível que percebamos uma coisa: O processo de globalização é marcado por uma pluralidade cultural e isso possibilita um dinamismo religioso, e, na minha opinião o diálogo inter-religioso é o caminho para as religiões atuarem de forma significante no processo de transformação cultural. Acredito que as religiões deveriam abandonar suas concepções tradicionais, excludentes, intolerantes e se abrir ao respeito ao outro. O intento religioso deveria ultrapassar a busca de uma verdade. Todos unidos em favor do bem comum. Promovendo a interação, a alteridade, a paz.

Ruptura do patriarcalismo

Estamos presenciando uma nova época marcada por diversas mudanças na organização social, em especial com relação à mulher que tem conquistado cada vez mais espaço. Hoje ela já não está condicionada a se tornar "escrava do lar", sendo controlada pelo marido e estando submetida às suas vontades. A mulher atualmente se mostra decidida, autônoma, senhora de seus objetivos e dita suas próprias regras.
O panorama das famílias atuais tem mudado em relação à autoridade masculina. Tal mudança de funcionamento da "hierarquia familiar" ocorreu pincipalmnte pelo elevado número de casamentos desfeitos, o que ocasiona indepedência à mulher pois, na maioria das vezes, ela permanece com os filhos e assume controle do cotidiano do lar, tendo inclusive que trabalhar para garantir o sustento. Outro fator determinante para a indepedência femenina foi a inserção da mulher no mercado de trabalho, motivada pela emergência do consumismo exacerbado, o que gera a necessidade de complementação da renda familiar.
A sociedade na qual vivemos (que hoje alguns denominam de "pós-moderna", "neomoderna", "hipermoderna", "Liquida", enfim, como queiram) caracteriza a família como sendo diversa. Hoje há um aumento no múmero de pessoas que optam por viver sozinhas, também a expansão de casamento de pessoas do mesmo sexo. A organização familiar é outra; pode-se ter ausência do pai, da mãe, dos filhos. Está ocorrendo uma quebra de tradição, as pessoas estão se desprendendo de determinados dogmas e se abrindo a novos valores. Se bem que persiste ainda, no interior da sociedade, pessoas que buscam uma verdade única, inviolável, tentam enquadrar os sujeitos como iguais, quando sabemos que existem múltiplas verdades, cada qual com sua legitimidade.
Os adolescentes são cada vez mais influenciados/movidos por novos padrões/valores e principalmete pela mídia (que proporciona mudanças significativas na consciência das pessoas e exerce influência direta em seus comportamentos). Eles tornam-se produto daquilo que consomem e que nem sempre lhes é saudável. Muitas vezes o problema passa a ser a própria família, onde eles são criados num universo distante da realidade e ao cresceram passam a ter contato com a novidade através de amigos, vão à procura de respostas que não encontraram no ambiente familiar. Muitas vezes percebem-se como "diferentes", com caracteristicas que sempre foram criticadas por suas familias, o que causa distanciamento e eles buscam identificação em outros lugares, com outras turmas.
Percebe-se uma evolução na confgiração das famílias, onde a figura do homem imponente, viril, protetor, dá lugar a concepção de homem interativo, que não mais dá a última palavra, ma compartilha opiniões, é aberto ao diálogo.
Logicamente não se pode negar a existência/persistência do machismo na sociedade contemporânea, até porque são inúmeros os casos de manipulação de mulheres a seus companheiros, mulheres que são vítimas de agressóes físicas e psicológicas. A violência contra a mulher é fato. Infelizmente ainda há, por parte de muitos homens, a idéia de pertencimento; eles querem controlar a vida de suas companheiras e para tal vão até as últimas consequências. Entretanto tem-se que admitir que, com relação ao machismo, houve uma redução considerável nos últimos anos e os jovens já estão adquirindo essa consciência de que as coisas já não são como eram e que há uma mudança contínua de valores influenciando as práticas dos sujeitos.

Ler o Mundo

"Volto ao essencial do pensamento: existe um paradigma novo.
Valerá, por isso, mais a pena, ler, ver e ouvir o mundo, segundo o novo, novos paradigmas.
Não faz sentido voltarmos a referenciais projectivos caducos.
O mundo tornou-se plural.
Plural nas dinâmicas, nas relações, nos conteúdos.
Plural significa muitos ao mesmo tempo.
É assim que se escreve o mundo.
Todos diferentes, todos iguais.
Não tenhamos medo de pensar, reflectir, analisar o futuro."
(Ana Paula Lemos)